Bugre, termo pejorativo e preconceituoso

29/01/2014 23:15

                                  Não trate nunca um indígena como bugre ou “carinhosamente” buguinho, há menos que queira trata-lhe mal. Não raras às vezes leio algo relacionado ao termo pejorativo bugre, objeti-vando nominar o índio, como se sinônimos fossem, essas palavras normalmente são ditas ou escritas por pessoas de pouca cultura, ou melhor, EDUCAÇÃO. Se não vejamos:

                                  Bugre é a denominação dada a indígenas de diversos grupos do Brasil, por serem con-siderados sodomitas pelos europeus (definição do dicionário brasileiro). A origem da palavra vem do francês bougre, que de acordo com o dicionário Houaiss possui o primeiro registro no ano de 1172 e significa 'herético', que por sua vez vem do latim medieval (século VI) bulgàrus. Como membros da igreja greco-ortodoxa, os búlgaros foram considerados heréticos, e o emprego do vocábulo para denotar a pessoa indígena liga-se à idéia de 'inculto, selvático, não cris-tão' sem alma - uma noção de intenso valor pejorativo.

                                  O termo bugre originou-se num movimento herético, na Europa, durante a Idade Média, representando uma força contrária aos preceitos ditados pela ortodoxia da Igreja. Surgiu no século IX, na Bulgária, tendo sido batizado como bogomilismo, inspirado no nome do padre Bogomil, considerado fundador da seita herética. O bugre reaparece na lembrança do europeu, com uma identidade já construída, dando a idéia da infidelidade moral, porém com novos elementos, próprios da nova situação.

                                  Fica claro que o termo é pejorativo, para identificar aqueles que apresentam alguns traços físicos específicos - cabelo liso e escorrido; olho rasgado nariz meio achatado; pele escu-ra sem ser negro - o bugre é rústico, atrasado; o bugre é o imbecil, do mato, aquele que está escondido, mais agressivo e arredio; o bugre na cidade é mais dócil, pode ser trabalhador, mas é traiçoeiro e infiel.

                                  Os significados de herege e sodomita desqualificação absoluta; as significações de infiel e traiçoeiro somadas às modernas práticas econômicas e políticas da modernidade, encontram-se os pares preguiçoso-vagabundo e estrangeiro-inteiramente outro. As significações devidas a uma matriz biológica - deficiente-incapaz e violento-desordeiro - também estão presentes no imaginário sobre o bugre na sociedade sul mato-grossense não sendo diferente noutra regiões do País.

                                  No Estado de Mato Grosso do Sul, a presença recente dos migrantes (paulistas, minei-ros, paranaenses, gaúchos, desde a década de 70, principalmente) despertou um sentimento de fragilidade perante os valores tradicionais autoritários. Esta insegurança, este medo, esta angús-tia manifestam-se, dentre outras formas, na retomada do preconceito contra o bugre, que figura como bode expiatório para tudo o que é tido como negativo, indesejável e condenável.

                                  O índio visto pela sociedade como “bugre”, não será visto nunca como o modelo de homem do novo tempo; pelo contrário, ele carrega um estigma de épocas passadas de ser identi-ficado como pertencente a uma parcela mais humilde das populações, como silvícola, que vive mais próximo da natureza, carregando consigo todo tipo de desvios morais determinados pela história, refletindo ou mesmo resultando numa exclusão social.

NÃO MIL VEZES NÃO! Nós os índios brasileiros não somo bugres!!!

 

Autor

•Advogado Wilson Matos Da SIlva 
 
OABMS 10.689 e Jornalista SRTE 773MS
 
• Email: nosliwsotam@gmail.com
 
 

 

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