No AP, índios querem abertura de ramal na selva para sair do isolamento

22/05/2014 02:09

Para chegar na aldeia Kumenê, em Oiapoque, é necessário viajar mais de 20 horas via fluvial (Foto: Abinoan Santiago/G1)

Índios da aldeia Kumenê, que fica na reserva Uaçá, em Oiapoque, a 590 quilômetros de Macapá, dizem estar cansados do isolamento em que vivem no meio da selva, na reserva Uaçá, extremo Norte do Amapá. O acesso a tribo é possível apenas por um percurso que compreende os rios Oiapoque, Uaçá e Urukauá. Para chegar a comunidade é necessário navegar ao menos 20 horas, tempo que pode ser maior dependendo da influência da maré. Segundo os indígenas, a abertura de um ramal seria a única alternativa viável para fugir do isolamento.

A proposta do ramal foi apresentada pelos próprios índios da aldeia Kumenê à prefeitura de Oiapoque. O percurso terrestre pretende ter 19 quilômetros e prevê ligar a aldeia à BR-156, a 80 quilômetros da sede do município.

Vice cacique da aldeia Kumenê Henrique Batista (Foto: Abinoan Santiago/G1)Vice cacique da aldeia Kumenê Henrique Batista
(Foto: Abinoan Santiago/G1)

O vice cacique da Kumenê Henrique Batista, de 45 anos, disse que o caminho teria sido descoberto há décadas pelos índios mais antigos. “Ainda chegou a ser iniciada a roçagem por cerca de 8 quilômetros, mas o trabalho não deu continuidade devido as dificuldades enfrentadas na vegetação da floresta”, contou.

Com a abertura de um ramal para ligar a Kumenê a sede do município de Oiapoque, os índios acreditam que a qualidade de vida na tribo vai melhorar por causa da facilidade do acesso a serviços de saúde e educação na cidade.

Outro benefício, segundo o vice cacique da aldeia, seria a diminuição do custo benefício no deslocamento dos habitantes da Kumenê até Oiapoque.

“Gastamos atualmente no mínimo 200 litros de gasolina para ir até a cidade. Esse volume de combustível tem um valor muito alto porque a maioria da nossa tribo é composta por pessoas com baixa renda. E quando chegamos em Oiapoque, ainda temos que pagar hotel por não ter como voltar no mesmo dia para comunidade”, relatou Henrique Batista.

Aldeia Kumenê, em Oiapoque, possui quase 2 mil índios (Foto: Abinoan Santiago/G1)Aldeia Kumenê, em Oiapoque, possui quase 2 mil índios (Foto: Abinoan Santiago/G1)

A prefeitura de Oiapoque informou que pode assumir a responsabilidade da abertura do ramal a partir do início do verão em agosto, no entanto, depende de autorização de órgão de fiscalização de meio ambiente e de proteção aos índios.

Kumenê
A aldeia Kumenê está localizada na reserva Uaçá, em Oiapoque, extremo Norte do país. Ela é composta por dez vilas às margens do rio Urukauá, que somam 1.963 índios, segundo o cacique Azarias Ioio Iapará.

Nas cabeceiras dos rios Oiapoque e Uaçá, a vegetação é de terra firme, mas seguindo em direção à foz do rio Urukauá, a vegetação muda, sendo tomada por campos alagados, com algumas montanhas, que permitem a ocupação humana.

Parte do caminho em direção a aldeia, a vegetação tem campos alagados (Foto: Abinoan Santiago/G1)Parte do caminho em direção a aldeia, a vegetação tem campos alagados (Foto: Abinoan Santiago/G1)

A tribo faz parte da etnia Palikur, que também possui descendentes na Guiana Francesa. Na comunidade brasileira, a língua materna é uma das únicas culturas preservadas. Os índios ainda utilizam o dialeto local para se comunicar entre si.

Além do dialeto palikur, muitos falam ou compreendem o patuá, idioma usado por índios das etnias Karipuna e Galibi-Marworno, também em Oiapoque.

Em Kumenê, atualmente há atendimentos da Fundação Nacional do Índio (Funai), com um posto de saúde, e de uma escola estadual com aulas até o ensino médio.

 

Fonte: G1

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