CANAL AUSTRALIANO CONDENADO POR RACISMO
O Channel 7 da Austrália perdeu nesta quinta-feira, 15, no Tribunal Federal australiano, o recurso judicial sobre um programa rotulado “Show de Horrores” por conta de sua descrição racista e enganosa de índios da tribo Suruwaha, que vivem isolados no Sudoeste do Amazonas, como assassinos de crianças. Este é o segundo recurso que a emissora perde.
Para a Justiça da Austrália, o programa “A tribo antiga da Amazônia”, apresentado pelos “aventureiros” australianos Paul Raffaele e Tim Noonan, cometeu crime de racismo.
Numa das cenas mais bizarras, Paul Raffa diz que uma garota Suruwaha se recusou a apertar a sua mão porque queria matá-lo. Na verdade, ele estava usando uma quantidade tão grande de protetor solar que a indiazinha pensou que o repórter tinha uma doença de pele.
Survival International, o movimento global pelos direitos dos povos indígenas, levou a denúncia para o órgão australiano de regulação da mídia, ACMA, em 2011.
A decisão assinala uma importante vitória para os índios Suruwaha do Brasil, que haviam condenado a representação enganosa de seu povo feita pelo show como assassinos de crianças inocentes. Duas audiências separadas agora consideraram que essa representação foi gravemente incorreta.
ELES MENTIRAM SOBRE NÓS…
A reportagem retratou os Suruwaha como assassinos de crianças e os “piores violadores de direitos humanos do mundo”. Um homem Suruwaha declarou à Survival depois que o show foi transmitido em 2011: “Eles mentiram sobre nós… Eles falaram, “Os Suruwaha são assassinos de crianças”. Atualmente os Suruwaha não matam crianças.”
O show angariou fundos publicamente para uma organização missionária evangélica que está pressionando por um projeto de lei no Congresso Nacional que poderia permitir a remoção de crianças indígenas – fazendo eco ao escândalo australiano da Geração Roubada. O projeto destaca índios brasileiros e perpetua o mito de que povos indígenas são mais violentos do que outras sociedades.
GLOBO TAMBÉM COMETE ERROS
O show do Canal 7 não é um caso isolado. Uma reportagem recente da TV Globo afirmou falsamente que 13 tribos no Brasil praticam infanticídio, embora de fato a prática seja extremamente rara e esteja desaparecendo. Infelizmente, essas representações enganosas dos povos indígenas continuam a ter um profundo impacto na forma como eles são tratados pelos que estão no poder.
O diretor da Survival, Stephen Corry, disse hoje: “Um dos tribunais de mais alta instância da Austrália acabou de confirmar o que Survival e os Suruwaha já sabiam desde o início – que a representação dos Suruwaha como matadores de crianças feita pelo Canal 7 foi racista e falsa”.
Para Corry, lamentavelmente, o infanticídio acontece em todas as sociedades. Deveria ser condenado em toda parte, mas o grupo de pressão evangélico do Brasil decidiu evidentemente destacar os índios como responsáveis, para promover a ideia de que eles são atrasados e necessitam de intervenção externa.
CRIMES CONTRA ÍNDIOS AUMENTAM NO BRASIL
Ocorrências de racismo e discriminação contra indígenas no Brasil mais que dobraram em 2013, em comparação ao ano anterior. Foram 23 registros, contra 11 levantados em 2012. O dado é do Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), divulgado ontem. “O ano de 2013 foi anti-indígena por excelência, tanto pelo número de ocorrências, quanto pela gravidade dos dados em termos de racismo”, comentou Cléber César Buzatto, secretário executivo do Cimi.
Além do aumento de violência por discriminação racial, o relatório aponta que 53 índios morreram assassinados no Brasil no ano passado. A maior parte das vítimas é do sexo masculino. Pelo menos 15 mortes ocorreram em virtude de brigas e consumo de álcool.
O documento indica que 8.014 dos 896.917 índios brasileiros, recenseados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em 2010, sofreram algum tipo de violência decorrente da omissão do Poder Público. Os dados consideram a falta de assistência escolar, de saúde, de políticas públicas que impeçam a disseminação de bebidas alcoólicas e outras drogas e até tentativas de suicídio.
Fonte: ecrau.com